por Gabriel Cassol | em Especial | 13/09/2020 17:14

A estiagem que vem afetando o estado do Paraná, com mais intensidade na região leste do estado já se confirmou como a maior das últimas décadas. De acordo com o Sanepar, a falta de chuvas na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) gerou um déficit de 618 milímetros, no período de junho de 2019 a agosto de 2020, em relação à média histórica. Esse saldo negativo é o maior dos últimos 22 anos, quando teve início a medição dos índices pluviométricos pelo Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar).

Figura 1: Precipitação Acumulada versus Média Climatológica Mensal. Fonte: SIMEPAR.

Ao analisarmos a variação espacial dos dados de precipitação acumulada em Curitiba desde setembro de 2019 até agosto de 2020 (figura 1), observamos que apenas os meses de junho e agosto deste ano fecharam com chuva acima da média, o que não é o suficiente para normalizar os níveis dos reservatórios na região metropolitana, porém não deixou que a situação se agravasse. Climatologicamente, o mês de agosto é um período relativamente seco em Curitiba, mas nesse ano, a ocorrência dos vários dias de instabilidade sobre o Paraná, favoreceram para bons acumulados de precipitação, com quase 130 mm na RMC.

O monitoramento por sensoriamento remoto feito na represa do Iraí pelo Simepar (figura 2), mostra que houve registros de níveis críticos na segunda quinzena de julho deste ano, com apenas 1,9 km² de água presente. Ao longo do mês de agosto é possível observar que houve um aumento de 1,5 km², devido as chuvas observadas na região durante esse período. Porém, quando comparado com as observações feitas no início deste ano quando a represa estava com cerca de 7,2 km² de água, fica claro que a situação ainda permanece crítica.

Figura 2: Estimativa de água por satélite da Represa do Iraí. Fonte: SIMEPAR.

Analisando os mapas de anomalias de precipitação entre o período de agosto de 2019 a julho de 2020 (figura 3), verifica-se que a estiagem mais intensa atua no centro-leste do estado com 50 a 75% abaixo da média climatológica para o período. Através do índice SPI (Standardized Precipitation Index), aonde mostra o tempo de recorrência da estiagem (figura 4), em algumas áreas da região oeste, centro-sul, RMC e litoral a ocorrência é de estiagem extrema, a maior em 50 anos.

Essa escassez tem impacto direto no volume das barragens do Sistema de Abastecimento Integrado de Curitiba e Região Metropolitana (SAIC), que está em 33,28%, neste sábado (12), o que segundo a Sanepar reforça a necessidade do rodízio no abastecimento e do uso racional da água.

Ao analisarmos a tendência para o mês de precipitação para o mês de outubro (figura 5) através da previsão por conjunto do modelo europeu ECMWF (EPS), a notícia é boa. As últimas rodadas do EPS indicam o retorno das chuvas sobre o Paraná, principalmente sobre a faixa leste que inclui a RCM, onde poderemos ter novos eventos de precipitação sobre os reservatórios.

Em uma visão mais a longo prazo, com a confirmação do fenômeno La Niña no oceano pacífico equatorial, a expectativas é de precipitação abaixo da média ao longo do verão na região sul do Brasil, o que pode voltar a impactar negativamente no sistema de águas do Paraná.

 

Figura 3: Anomalia de Precipitação. Fonte: SIMEPAR.
Figura 4: Índice SPI. Fonte: SIMEPAR.
Figura 5: Previsão do modelo ECMWF-EPS para o mês de outubro. Fonte: Weatherbell.

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Gabriel Cassol
Gabriel Cassol

Meteorologista