O início da semana está sendo bastante fria e agitada na América do Sul. Além da massa de ar bastante fria houve até mesmo a formação de uma Tempestade Subtropical

Tempestade Subtropical Raoni

Como comentado ontem, o ciclone que se formou na costa do Uruguai não possuía rampas frontais (frentes associadas), portanto não se tratava de um ciclone extratropical clássico. Além disso, esteve simétrico e com núcleo quente associado, como pode ser visto no diagrama de fase do modelo UKMET.

O núcleo não somente era quente como profundo (ultrapassando o nível de 500 hPa), como pode ser visto no corte de secção vertical sobre o sistema, do modelo GFS. 

Havia uma convecção profunda ao redor do núcleo. Por estes motivos, o sistema ganhou atenção internacional e está gerando profundas discussões no dia de hoje. Ainda na noite da segunda-feira (28/06), a NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) atribuiu a ele um INVEST. Quando um sistema de baixa pressão recebe um INVEST ou “Área de Investigação” isso quer dizer que o tal sistema tem potencial para evoluir ou já evoluiu para um sistema tropical. Dessa forma, um sistema que recebe um INVEST tem especial atenção do Centro Nacional de Furacões dos EUA. O INVEST recebe um número de 90 - 99 e uma letra associada (L no caso de formar sobre Oceano Atlântico e E no caso de formar sobre o Pacífico Oriental e outras letras). No caso da América do Sul costuma receber a letra Q.

Naquele momento, a NOAA inclusive já classificava como um possível sistema tropical. O Ciclone possuía pressão de 984 hPa e vento sustentado de 55 kt (102 km/h) e Devorak de 3.5. Se assim fosse se trataria de uma Tempestade Tropical. Boletim inicial emitido pelo orgão: 

H.  REMARKS...0.85 CURVED BANDING RESULTS IN A DT OF 3.5. THE MET AND THE PT ARE NOT AVAILABLE AS THIS SYSTEM HAS TRANSITIONED FROM SUBTROPICAL TO TROPICAL. THE FT IS BASED ON THE DT. OF NOTE IS THE APPEARANCE OF AN EYE AFTER THE 2330Z IMAGE WITH CONTINUALLY COOLING CLOUD TOPS IN THE CDO.
 

Porém, a Marinha Brasileira (Órgão competente para oficializar e batizar sistemas ciclônicos subtropicais e tropicais nas águas do Brasil) classificou como Tempestade Subtropical na carta sinótica da 00Z (21 horas de ontem) de hoje, mas não tinha nomeado até aquele momento por estar fora das águas brasileiras. Na 12Z  de hoje (9 horas da manhã), com o sistema transitando sobre águas brasileiras, a Marinha Brasileira batizou a Tempestade Subtropical de “Raoni”. 

A Tempestade Subtropical Raoni causou rajadas de vento entre 60/80 km/h no sul e leste do RS (pontualmente acima) e rajadas de vento acima de 80 km/h no Uruguai na segunda-feira (28/06). E nesta terça-feira, acima de 50/60 km/h em alguns locais. O mais curioso é que essa Tempestade Ciclônica ajudou a impulsionar um ar extremamente gelado para o interior da América do Sul. E a circulação de umidade associada a ele, sobre o RS, favoreceu a queda de neve e precipitação invernal ao longo da terça-feira pelo interior do RS e na serra de SC. Soma-se a isso o fato das águas onde o sistema estar transitando apresentarem temperaturas da superfície do mar entre 12°C e 18°C. Sistemas Subtropicais ou Tropicais não costumam se formar sobre águas tão frias e nem estar associado a uma configuração sinótica que favoreça impulsionamento de ar gelado e queda de neve. Sistemas ciclônicos que favoreçam ocorrência de ventos intensos em um ambiente bastante gelado e precipitação invernal ou neve, é mais normal em situações clássicas de ciclones extratropicais. 

A hipótese de se tratar de uma Tempestade Tropical continuou a ser levantadas ao longo do dia não só no Brasil como no exterior. Uma possível explicação para este sistema ciclônico seria um ciclone subtropical que se formou a partir da seclusão quente de um ciclone extratropical (clássico ou Shapiro-Keiser) ou mesmo de uma baixa polar. Este sistema sem dúvida renderá muitas discussões e estudos pela comunidade acadêmica. 

NEVE E PRECIPITAÇÃO INVERNAL

Falando em neve, houve relatos ou registro de queda de neve e precipitação invernal (chuva congelada ou neve granular) em Quaraí, Pinheiro Machado, Encruzilhada do Sul, interior da Barra do Ribeiro, Bagé, Santana do Livramento, Flores da Cunha, Gramado, Canela, Soledade, Caxias do Sul (todas no RS) e São Joaquim (Santa Catarina). Devido a persistência da instabilidade em meio ao ar frio não se pode descartar totalmente a queda destes fenômenos invernais nas próximas horas nas regiões de altitude do RS e de SC. Abaixo foto registrada pela equipe da Sigma Meteorologia em Pinheiro Machado na Serra do Sudeste (Sul Gaúcho).

FRIO EXTREMO, GEADA E CONGELAMENTO

Além disso, o dia foi gelado também no Paraná, Mato Grosso do Sul, boa parte do Mato Grosso, Rondônia, parte de Goiás e o estado São Paulo. Até o fechamento desta matéria, as mínimas haviam sido de -7,5°C no Morro da Igreja em SC, -2,9°C em São José dos Ausentes no RS e em Inácio Martins no Paraná, -1,4°C em Bela Vista no MS, 5,4°C em Jataí em GO, 6,4°C em Nova Marilândia no estado do MT e 8,3°C em Vilhena no estado de Rondônia. Em São Paulo 0,2°C em Bom Sucesso do Itararé.  Alguns locais a mínima deve ser batida até o final da noite de hoje. Abaixo foto da geada no amanhecer de hoje em Iporã do Oeste - SC onde fez -1,9°C.

Outro destaque foi a tarde excepcionalmente gelada, sobretudo no RS e em SC. Na maior parte do RS a temperatura máxima foi abaixo dos 10°C. Houve lugares na Serra Gaúcha, Planalto Médio, Campanha, Serra do Sudeste e Aparados da Serra com máxima abaixo de 5°C. De igual forma no Planalto Sul e Meio Oeste em SC. Destaques para a máxima de 1,9°C em Gramado. Em Santa Catarina, a sensação térmica chegou a -14,9°C na estação meteorológica particular (estação Fernando Keiser) na serra do Rio do Rastro. O Morro das Torres teve máxima de -0,5°C e o Morro da Igreja 0,3°C. Máxima muito baixa (temperatura negativa a maior parte do dia), pista molhada e ação do vento constante favoreceram formação de gelo sobre pistas em alguns trechos do alto da Serra de SC. Como pode ser visto nas fotos abaixo na Serra do Corvo, entre o município de Urubici e Grão-Para.

PREVISÃO PARA OS PRÓXIMOS DIAS

A próxima madrugada deve ser novamente congelante. No RS e parte de SC vai depender da nebulosidade associada a circulação da Tempestade Subtropical que pode frustrar o resfriamento em alguns lugares. Por esse motivo, os locais que ficarem com céu limpo e pouco vento podem ter mínimas muito baixas, especialmente o Oeste e Meio Oeste Catarinense, Oeste e Noroeste gaúcho. Já no Paraná, há condição para formação de geada em boa parte do estado e mínimas negativas em várias regiões, incluindo na capital Curitiba.

Outro destaque é o Centro-Oeste. Há condição para formação de geada no centro, sul, sudoeste e leste do MS. Mas não se descarta totalmente em áreas menos tradicionais como região da grande Campo Grande e o norte do estado (a depender da nebulosidade). Em Goiás, não se descarta totalmente em alguns municípios do sul goiano, sobretudo em regiões de vales e baixadas. O frio se faz presente também no Acre, Rondônia e sul do AM, até com mínimas abaixo dos 10°C em alguns locais.

Em São Paulo, há condição para formação de geada no sul, centro-sul e sudoeste (áreas mais próximas à fronteira com o Paraná), ou seja, regiões que estarão mais próximas do ar seco frio e portanto fora da atuação de qualquer nebulosidade e mais próxima da estabilidade. Em áreas do oeste, norte, noroeste e grande SP, apesar da condição ser menor, há possibilidade nos locais onde a nebulosidade e o vento não atrapalhar, sobretudo em regiões de vales e baixadas.

Já na quinta-feira, o ar frio começa a perder intensidade, mas ainda assim a madrugada deve ser fria no interior do Sul com formação de geada em várias regiões, e novamente no Centro-Oeste e parte do Sudeste, além do sul da região Norte. Não se descarta inclusive formação de geada em áreas de baixadas e vales do norte do Mato Grosso do Sul, Sul de Goiás, noroeste paulista, Triângulo Mineiro, e o sul de Minas Gerais. Mesmo no sul e oeste do MT não pode ser descartado totalmente de forma muito isolada. 

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