Nesta sexta-feira, a amplitude térmica chamou a atenção. No interior de Pelotas, no sul gaúcho, o dia começou com geada e 1°C e terminou com calor de 31°C. Depois de tardes quentes com temperaturas acima da média para época, um novo corredor polar promete se instalar em parte da América do Sul
Após dias de muito frio em partes do Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, a massa de ar frio perdeu intensidade e se afastou do território brasileiro. O ar extremamente seco em algumas regiões ainda contribuiu para um maior resfriamento por perda radiativa em alguns locais, em especial de baixadas em áreas de maior altitude como na Serra da Mantiqueira. No bairro do Charco em Delfim Moreira/MG, localizado a mais de 1850 metros de altitude, os termômetros marcaram incríveis dois dígitos abaixo de zero: -10,1°C no início da manhã de hoje. A marca, embora registrada outras vezes no Brasil ao longo da história, só foi possível com a expansão do monitoramento meteorológico na região.
À tarde, no entanto, com o predomínio do sol e com os ventos mais quentes que já passaram a soprar do quadrante norte, as temperaturas subiram e fez calor em várias regiões. Além disso, o aquecimento adiabático pode ter potencializado o aquecimento de modo localizado. Em Delfim Moreira, onde houveram inúmeros congelamentos em função das temperaturas muito abaixo de zero, as temperaturas passaram dos 19°C. Em Pelotas, no sul gaúcho, o dia começou com 1,3°C e à tarde fez 31,1°C, com quase 30°C de amplitude térmica entre o início da manhã e tarde.
No final de semana, essa condição ainda deve persistir, com temperaturas amenas para a época entre as noites e madrugadas e durante a tarde faz calor em várias regiões, com marcas entre 25°C e 30°C, pontualmente acima. Os mapas abaixo mostram as anomalias de temperatura e as temperaturas previstas para parte do Brasil entre a noite desta sexta-feira e a próxima segunda-feira.
As condições do tempo, entretanto, já começam a mudar a partir do final deste sábado no Uruguai e no domingo em áreas da Metade Sul do RS. A formação de uma frente fria deve favorecer a ocorrência de pancadas de chuva acompanhada de trovoadas nessas regiões e não se afasta o risco para temporais isolados. O aprofundamento de um Ciclone Extratropical em alto mar no Oceano Atlântico deve impulsionar o avanço da frente fria e levar a chuva com condição para temporais isolados a todas regiões do Sul do Brasil entre a próxima segunda e terça-feira. Ainda na terça-feira, o sistema alcançaria os estados do Mato Grosso do Sul e São Paulo, causando chuvas em algumas regiões desses estados, mas sem perspectiva de grandes volumes.
O padrão sinótico estabelecido durante esse período deve favorecer a incursão de pelo menos dois novos pulsos de ar polar da Antártida para a América do Sul. O primeiro deles, que avançaria pelo interior da Argentina e Uruguai e alcançaria o Sul do Brasil na terça-feira, já traria intenso declínio de temperaturas nos dias posteriores.
A intensidade dessa onda de frio ainda é um tanto incerta. Na análise criteriosa feita pela Sigma Meteorologia, espera-se um ar polar que se assemelha aos mais fortes já presenciados nos últimos anos e o mais forte deste ano, mas ainda é cedo para dizer se será um evento histórico de frio. Pelos últimos dados analisados pelos nossos Meteorologistas na tarde desta sexta-feira (23), e que serão atualizados nos próximos dias, há condição favorável para a ocorrência de precipitações invernais (graupel, neve granular e em flocos, entre outras) entre quarta e quinta-feira em áreas do Uruguai e do Sul do Brasil e posteriormente, para temperaturas abaixo de zero com formação de geada forte em muitas áreas. Até mesmo a geada negra, a mais nociva para as plantas e algumas culturas agrícolas, não poderia ser descartada.
Diante desse cenário, a Sigma Meteorologia ressalta a importância de acompanhar as novas atualizações e que as autoridades estejam atentas antecipadamente a esse episódio de frio, uma vez que as baixas temperaturas podem causar hipotermia à população suscetível e em situação de risco que vivem nas ruas e causar novos danos graves a culturas agrícolas no Sudeste do Brasil, como o café, que já acumula perdas associadas às duas últimas incursões de ar polar sobre o Brasil.
