por Fernando Rafael | em Especial | 05/09/2020 18:11

Mesmo com chuvas abaixo da média nos últimos dois meses, nível do principal reservatório de água de Pelotas, no sul gaúcho, volta a condição de normalidade

Figura 1. Desvios de precipitação em milímetros (mm) estimado por dados de satélite: (A) últimos 90 dias, (B) no mês de maio, (C) junho, (D) julho e em (E) no mês de agosto. Fonte: NOAA.

O principal reservatório da maior cidade do Sul do Rio Grande do Sul alcançou seus menores níveis (déficit hídrico) desde que foi construída em 1968, na primeira quinzena do mês de junho (11) deste ano, quando registrou marcas históricas de até 4,40 metros abaixo do nível normal. De lá para cá, houveram alguns episódios pontuais de chuva e que exerceram um importante  papel na recuperação gradativa do nível das águas, evitando o colapso do abastecimento da região e adoção de medidas mais radicais como o racionamento. 

No entanto, vale ressaltar que apesar do retorno das chuvas ao longo do último outono no estado, depois da intensa estiagem de verão que teve início em meados de novembro de 2019, as Metades Sul e Norte vem tendo uma recuperação hídrica com velocidades diferentes. Na região Sul do estado, desde o retorno gradual das chuvas em maio, apenas os meses de maio (parte dessa região) e junho (figuras 1B e 1C) registraram acumulados de chuva dentro/acima da normalidade. Essa condição foi procedida novamente de dois meses com chuvas irregulares/abaixo do normal na região, como é o caso dos meses de julho e agosto (figuras 1D e 1E). Em contrapartida, em grande parte do norte do RS, no mesmo período, praticamente todos os meses (com exceção de agosto) registraram chuva próximo/acima da normalidade, favorecendo uma recuperação mais rápida do déficit hídrico deixado pela grande seca. 

Figura 2. Precipitação total (milímetros) estimada por dados de satélite no último evento de precipitação intensa registrada entre o final do mês de agosto e o início do mês de setembro. Fonte: NOAA.

No caso de Pelotas em específico, localizada na região em que as chuvas ainda não foram tão abundantes, a combinação das medidas restritivas adotadas para o uso da água com o período frio que é caracterizado por apresentar radiação menos intensa e temperaturas mais baixas (ou seja, favorecendo menos evaporação da água do solo para a atmosfera) colaboraram para a recuperação total (cota considerada normal) do nível da principal barragem da cidade (Santa Bárbara). O anúncio da recuperação do reservatório foi feito pelo SANEP (Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas) ainda no dia de ontem (4). 

O último evento de chuva volumosa registrado entre o final do mês de agosto e os primeiros dias do mês de setembro entre o Uruguai e a Metade Sul do estado (figura 2) colaboraram para a melhora da situação e apesar da boa notícia, a ascensão de alguns indicadores, dentre eles a configuração de uma La Niña (chance de 55% de acordo com o último boletim da NOAA) no decorrer desta primavera e a previsão um tanto desanimadora no que diz respeito às projeções atuais de chuva na região no decorrer desta primavera (trimestre setembro/outubro/novembro-SON), acendem um alerta e reforçam o apelo para que a população siga utilizando a água da maneira mais consciente possível não só na região sul do estado como em todo o Rio Grande do Sul.

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Fernando Rafael
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Meteorologista